#3 | Esta curadoria foi feita por um ser humano
Links e notícias sobre Inteligências Artificiais (IAs) e educação
Feliz 2023, pensante! Dawton aqui.
É uma alegria entregar na sua caixa de entrada (ou na sua espiral de links aleatórios) a 3ª edição da newsletter palavra puxa palavra. Como o ano só começa depois do Carnaval, vou aproveitar pra ser clichê e dizer que vou usar o novo ano para fazer mudanças aqui na publicação. Algumas são sutis, como a diminuição do número de seções e a renomeação delas, o que você verá mais abaixo. Outra é mais radical: nesta edição, você receberá a curadoria de notícias, links e temas pertinentes à sala de aula e que vão ser úteis para sua atualização. Essa parte da publicação dá o contexto necessário para a sua segunda parte, o texto, a crônica da edição que passará a ser enviada separadamente.
Essa divisão tem dois principais objetivos: facilitar o reconhecimento do objetivo de cada parte e, consequentemente, facilitar o consumo de cada tipo de conteúdo: o contexto e o texto. Fica o pedido prévio de “desculpem o transtorno, estamos trabalhando para melhorar sua experiência”.
Esta edição está inteiramente dedicada ao fenômeno das Inteligências Artificiais (IA) gerativas, isto é, aquelas que conseguem produzir conteúdo criativo, como músicas, imagens e textos escritos. A ênfase será, como não poderia ser diferente, o ChatGPT.
Lembre-se de que a palavra puxa palavra é feita para se ler com calma e aos poucos, um espaço de cada vez, e que você pode me dizer o que achou desta edição respondendo ao e-mail ou deixando um comentário direto no Substack.
🤳🏾 Feed atualizado
Inteligências Artificiais (IAs) não são novidade. Elas estão entre nós há muito tempo, especialmente depois de empresas acharem mais barato logístico colocar robôs para nos atenderem em pedidos de suporte. Hoje, são elas que nos respondem não só em chats de WhatsApp, mas também em ligações telefônicas. A diferença que coroa IAs mais recentes e que têm ganhado mais repercussão não é a mera habilidade de dar respostas a partir de comandos simples, como “Digite 1 para ouvir mais ofertas”, mas a competência real de gerar conteúdo criativo, desde músicas e arte gráfica até edição de vídeos e “tradução” de caligrafia médica.
IAs gerativas colocam em dúvida nossa convicção já ultrapassada de que os robôs não poderiam ameaçar profissões essencialmente criativas, como as que estão sendo afetadas só por aquelas que linkei aí em cima. Eis, então, que veio o boom do ChatGPT, o chatbot (IA que funciona como alguém que nos responde em um chat) superinteligente e capaz de, entre várias outras coisas, ser aprovado em processos seletivos estadunidenses para pós-graduação, o que deixa a tarefa de gabaritar questões do Enem fácil. Se depender do Buzzfeed, aliás, logo, logo, o robô estará também nas redações de jornalismo, o que já é, como bem garimpou a
, uma das expectativas para o futuro beeeem próximo.Nesse cenário, enquanto mal temos tempo de levantar discussões apocalípticas, como a substituição de professores e de advogados por IAs, o ChatGPT, que ainda é gratuito, mas já conta com uma versãozinha paga, alcançou uma marca histórica: mais de 100 milhões de usuários em menos de três meses, superando até mesmo o Tiktok. O sucesso da OpenAI chamou a atenção de todo mundo que não conseguiu lançar uma ferramenta assim antes de surgir uma ferramenta assim e quem não tá pensando em incorporar o robô aos programas que já possui, tá pensando em criar sua própria IA gerativa.
🔗 Arrasta pra cima
Na tentativa de refletir sobre os efeitos que o ChatGPT pode ter em vários setores sociais, o Headline publicou uma matéria curtinha, mas muito pertinente sobre como o domínio da ferramenta, que não será “desinventada”, será um diferencial profissional e como seus impactos podem ser, inclusive, ambientais;
O uso do ChatGPT para plágio já tá muito além de um risco, é uma realidade. Talvez por isso a OpenAI criou uma ferramenta de identificação de textos escritos por IA, mas que ainda é inconclusiva;
Sem uma ferramenta realmente efetiva para separar o que é original do que é remix cibernético, algumas instituições estão adotando tolerância zero para o uso do ChatGPT ou parâmetros bem rígidos para isso, como a revista Nature;
Aos vestibulandos, um alerta: o ChatGPT teria tirado 680 na redação do Enem 2022;
Aos artistas, outro alerta, por
: uma análise bem realista sobre IAs na arte e o emprego de artistas (em inglês, excelente para treinar fluência leitora);À sociedade em geral, o último alerta desta seção: IAs gerativas remixam conteúdos já criados e esses conteúdos, por sua vez, carregam consigo traços da cultura que construímos, incluindo nossos estereótipos e preconceitos.
📂 Isso dá aula!
A notícia foi:
O gerente de design de produtos Ammaar Reshi "escreveu" um livro infantil em 72 horas, no mês de dezembro, usando o ChatGPT, novo chatbot da OpenAI. Com ajuda de outra inteligência artificial (IA), a Midjourney, ele ilustrou 'Alice e Sparkle'.
A pergunta, que está por baixo das aspas em “escreveu”, é: é possível dizer que Ammaar é autor do livro? Mais além: é possível pelo menos apontar a sua coautoria? Para quem os lucros da publicação (que não é barata) deveria ir, para Ammaar ou para a OpenAI? Para ambos?
Essa discussão é apenas uma das muitas que ainda teremos pelos próximos meses, à semelhança de algumas que começamos a ter, ainda no ano passado, sobre os conceitos de autoria, originalidade e arte. Ao mesmo tempo que estamos longe de encontrar respostas para essas questões, as IAs estão cada vez mais perto de se integrarem inalteravelmente ao nosso cotidiano. É preciso, então, pensar, pelo menos, em dois sentidos: manter o olhar crítico sobre essa transformação e adiantar possíveis cenários. Cenários, inclusive, em que Ammaar talvez seja chamado de designer de prompts (os comandos que são dados à IA para a execução de uma tarefa).
Em sala de aula, é a chance que temos de não sofrermos sozinhos! Não adianta discutir os impactos do ChatGPT e outras IAs apenas na sala dos professores, pois é na sala de aula, com os alunos, que os desafios surgirão a todo instante. Mais do que uma formação meramente proibitiva, talvez seja uma excelente oportunidade de trazer a Base Nacional Comum Curricular pra roda:
“Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BNCC, 2018)
Algumas coisas, pelo menos, estão nítidas: será preciso mudar nosso jeito de avaliar o aprendizado, incluindo o ChatGPT e afins não só no processo de avaliação, mas também no de planejamento, como um aliado que pode, inclusive, ajudar a poupar tempo. E, para se convencer disso, basta pensar em tudo que já se pode fazer com o robôzinho: resumo de conteúdos em tópicos; cronograma de estudos; resumo de obras literárias; listas de fórmulas matemáticas; resolução de exercícios; listas de perguntas sobre algum tema; aprendizado de um novo idioma…
Câmbio, desligo!
Valeu pela menção! Sempre bom ver gente olhando pro assunto das IAs com calma e sem o hype doido que vemos por aí.