🪢 1, 2, 3, puxe!
Alô, pensantes! Dawton aqui.
É com muito carinho e com muita gratidão que dou as boas-vindas à newsletter “palavra puxa palavra”. Este projeto busca criar vínculos que não fiquem à mercê dos ventos algorítmicos que hoje sopram as velas das embarcações que se arriscam na internet. Como toda iniciativa contemporânea, esta também tem compromisso com a metamorfose constante, ou seja, não estranhe se o formato e a distribuição das informações se alterarem com o passar das próximas edições. Ah, e eu realmente recomendo uma apreciação tranquila, sem a pressa própria dos novos tempos. Explore os espaços, experimente, espalhe, encontre seu cantinho preferido e se aproprie. O espaço é nosso!
A “1, 2, 3, puxe!” é nosso acolhimento, o espaço da mensagem de abertura da edição. Em “puxa notícias”, você vai encontrar uma curadoria de manchetes e breves resumos sobre educação e tecnologia, semelhante ao que se poderá ver no tópico “puxa links”, no qual, sem tanto compromisso com atualidades, compartilharei os novos conteúdos que produzi por aí. Em “puxa repertórios”, escolho um repertório sociocultural para ampliar com você e sugerir uma possível abordagem em sala de aula. Finalmente, em “puxa tempo”, crônicas autorais que ficam no finzinho justamente para você não se sentir na obrigação de ler. Nenhum dos tópicos é fixo e imutável, mas dão uma ideia do que está por vir!
📰 puxa notícias
Não é tão recente, mas ainda vale a leitura: Brasil pode ter apagão de professores até 2040, ou seja, sem atrair jovens para ingressarem (e concluírem) cursos de licenciatura, sem investir em melhorias estruturais (como salários e infraestruturas escolares) e sem promover uma mudança da imagem da profissão docente no imaginário coletivo, o Brasil pode chegar a 2040 com menos professores do que precisará. Minha dúvida é se esse apagão já não começou, considerando que já vivemos falta de professores;
Ainda sobre esse possível apagão de professores, a Folha entrevistou jovens à procura de compreender quais são suas dificuldades e o que os motiva a persistir em cursos de licenciatura. Recomendo muito a leitura!;
De todas as metodologias ativas que ganharam destaque durante o ensino remoto, talvez a gamificação seja a que mais tem se mostrado no retorno presencial às salas de aula. E algumas pesquisas já mostram o porquê, como a que mostra que crianças aprendem a ler e escrever melhor com jogos pedagógicos;
🔗 puxa links
Novembro é o mês em que mais falamos sobre educação antirracista, principalmente por conta do Dia da Consciência Negra. A Nova Escola preparou um conteúdo bem completo sobre o tema, sugerindo, entre outros pontos, abordagens transdisciplinares do antirracismo no Ensino Fundamental, propostas de aplicação e um diagrama que mostra como o tema pode ser trabalhado em vários componentes curriculares;
Foi também a Nova Escola que fez uma matéria interessante com dicas para professores iniciantes sobre a gestão da sala de aula dos anos finais do Ensino Fundamental;
Joguinhos on-line têm sido ótimas ferramentas, do lado de cá, para propor “pausas lúdicas” nas aulas de Linguagens. Lá no Instagram, mostrei 3 desses jogos que tenho mais usado.
📂 puxa repertórios
Você já tá sabendo o que é “BeReal”?
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Eu me lembro do processo de migração do finado Orkut para o então moderno e poderoso Facebook, lá em idos de 2010/11. De lá pra cá, fomos presenciando cada vez mais tendências em termos de redes sociais, até chegarmos ao “império” Instagram-Tiktok, que tem incomodado, inclusive, outra gigante da internet, a Google. Isso porque pesquisas mostram que os jovens têm utilizado justamente as redes de fotos e vídeos verticais não só para entretenimento, mas também para pesquisas.
Nesse cenário em que temos aplicativo para praticamente qualquer coisa, estava difícil acreditar que uma nova tendência pudesse surgir ou como ela surgiria, até que a rede social BeReal ganhou destaque. Ela se declara como “anti-influenciadores” e aposta no retorno à ideia original do Instagram: registrar instantes, sem muitos filtros e com mais “espontaneidade”. Para tanto, a rede dá aos usuário a chance de tirar fotos usando as câmeras frontal e traseira do celular ao mesmo tempo.
Se você juntar essa “nova forma” de produzir conteúdo on-line ao mais recente apagão que o Instagram sofreu, é possível levantar, em sala de aula, reflexões sobre a presença digital, as relações entre off e on-line, a relação de dependência do ser humano contemporâneo e das redes sociais e os valores da cultura digital, que mudam o tempo todo, na velocidade de um clique.
📝 puxa tempo
“o melhor é afrouxar a rédea à pena, e ela que vá andando, até achar entrada. Há de haver alguma; tudo depende das circunstâncias, regra que tanto serve para o estilo como para a vida; palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies.” (Machado de Assis, em “Primas de Sapucaia”)
Ao longo da vida, fui pensando em muitas metáforas para minha relação com o tempo. Passei por muitas delas, especialmente em crônicas que eram escritas religiosamente nos aniversários da adolescência. Hoje, olhando para esses textos e para essas metáforas, com a maturidade e a afeição à psicanálise que me costuram a vida adulta, percebo como tudo não passou de uma tentativa ingênua (ou desesperada) de alcançar consistência.
Muito antes de presenciar a tirania dos algoritmos digitais elevada a muitas potências e crescendo, eu já tinha uma relação conturbada com a impermanência, uma certa inconformidade. Não era exatamente simples ou fácil admitir que a mudança faz parte justamente de uma das melhores definições estáticas que se pode dar a “ser humano”. Daí ao tempo em que os gurus de Instagram reforçam de todo jeito lúdico possível que é a constância que traz sucesso, seguidores e prestígio, entendi que não havia muitas alternativas entre aceitar a inconsistência e padecer com a culpa que não deveria ser minha, mas do modelo de negócio que as redes sociais adotaram.
Na maior parte dos dias, tenho conseguido aceitar a instabilidade relativamente estável das coisas (alô, Bakhtin!) e me comprometido, estrategicamente, com experiências de vida que me representam melhor quando me representam melhor. Gosto de pensar nas mudanças de posicionamento digital que assumi desde 2009, quando comecei a produzir conteúdo, até hoje. Das muitas eras, as três últimas - garoto do blog da faculdade, bookstagrammer e profgrammer - talvez ilustrem perfeitamente essa mutabilidade.
Fato é que os gatilhos ficam pelo caminho, como minas explosivas armadas por mim para mim, numa travessura dolorosa que minhas versões do passado e do presente gostam de se fazer. Um tem a arrogância de achar que nunca se ferirá porque nunca voltará a passar pelos caminhos que percorreu, enquanto o outro, ligeiramente mais cruel, guarda uma esperança convicta de que voltar é o jeito preferido da humanidade para seguir em frente. E volto. E escapo. E caio. E volto.